
Eu tinha dez anos, quando encontrei entre minhas colegas, a primeira amiga de verdade. Nossa camaradagem tornou-se a coisa mais importante para mim. Entretanto, eu era de natureza exclusivista e me sentia violentamente enciumada sempre que ela manifestava interesse por alguma coisa que nada tivesse a ver comigo. Por sua vez, mamãe compreendeu o que estava ocorrendo e um dia chamou-me para ver uma ninhada de pintinhos que havia acabado de nascer. Fiquei encantada. Era umas coisinhas lindas, feitas de suave veludo cor-de-ouro. Em meu entusiasmo, colhi um deles na mão, mas apertei-o com tanta força que por pouco não o sufoquei. Ele naturalmente, lutou para escapar até que, desvencilhando-se correu para longe de mim. Mamãe notou o meu desapontamento e disse: - Pegue um outro, mas procure segurá-lo suavemente. - Se você prender com muita força, por instinto, ele vai querer fugir. Fiz um segunda tentativa e o pintinho aninhou-se quietinho na palma de minha mão. Senti-me muito feliz e sorri para mamãe. Foi quando ela me disse: Sabe meu bem, as pessoas neste mundo, são como estes pintinhos. Quando agarramos com muita força aqueles a quem amamos, tentando aprisioná-los em nossas mãos, eles naturalmente, não se sentem bem. Eles lutam por readquirir a liberdade, como fez o primeiro pintinho que você pegou. Se ao contrário, nos os colocarmos na palma da mão, sem fechar os dedos, de modo que sintam apenas o nosso calor, então percebem logo que não desejamos aprisioná-los, pelo contrário, apenas aquecê-los com um pouco de nós mesmo, sem a pretensão de exigir-lhes nada. Foi o que aconteceu com o segundo pintinho. Aquilo me impressionou muito e guardei a lição. Não quero dizer que deixei de sentir ciúmes, pois isso faz parte da natureza humana, entretanto, quando o exclusivismo fala mais alto em meu espírito, controlo-me mentalizando a figura daquele pintinho na palma de minha mão. Foi assim que aprendi a manter junto de mim, aqueles que, pensando seriamente, desejo que permaneçam perto de meu coração.
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